Milton Glaser

Milton Glaser, nascido no bairro do Bronx, EUA no dia 26 de junho de 1929, foi ilustrador e designer gráfico, e um dos mais influentes e carismáticos do século XX, com projetos sobretudo na área do design e de identidade corporativa.

Ao longo de duas décadas, Chwast e Glaser dirigiram o estúdio, do qual, entretanto, haviam saído Sorel e Ruffins. Também Glaser o abandonou em 1974 para criar o seu próprio estúdio.

Milton Glaser transformou o vocabulário da cultura visual norte-americana nas décadas de 1960 e 1979, numa linguagem psicadélica, onde abundam as atmosferas quentes, as cores saturadas, quentes e brilhantes, as formas ondulantes e dinâmicas e o desenho de letras de caráter decorativo e fraca legibilidade, opondo-se, no contexto da contracultura, aos cartazes publicitários com fotografias de produtos da sociedade de consumo

O design de Milton Glaser carateriza-se pelo seu ecletismo, assumindo múltiplas influências, como a Art Nouveau, a pintura a tinta-da-China (Shuimohua), as xilogravuras alemãs, as pinturas primitivas americanas, ou os desenhos animados dos anos 30, isto é, tudo aquilo que o modernismo havia desprezado, como a ilustração narrativa e a ambiguidade visual, enquanto recusava igualmente a ortodoxia metodológica.

O icônico cartaz de Bob Dylan

No contexto das suas obras, são imediata e mundialmente reconhecíveis o cartaz de Bob Dylan e o logotipo “I ♥ NY”.Em 1954, juntamente com Seymour Chwast e Edward Sorel, vindos da Cooper Union, fundou o Push Pin Studio, ao qual se juntou, pouco tempo depois, Reynold Ruffins. Desenvolveram um trabalho colaborativo na redefinição e expansão de uma linguagem própria nas áreas do design, ilustração e cultura visual, alterando a prática do design gráfico com forte impacto nas gerações seguintes.

O cartaz de Bob Dylan perfil virado à esquerda, com a face plana, em silhouette, a preto, a partir da qual se desenvolve, em contraste, o branco e as cores vivas do cabelo em arabescos que denunciam a influência da pintura islâmica, mas com um tratamento plástico próximo da corrente psicadélica. Na base inscreve-se o apelido “Dylan”, no tipo Babyteeth, desenhado por Glaser em 1964, a partir de um sinal pintado à mão que vira na Cidade do México. Com cerca de seis milhões de cópias, o cartaz foi sendo sucessivamente reproduzido (e replicado) ao longo dos anos, tornando-se uma das mais impactantes imagens visuais dessa época1.

O esboço do que se tornaria o famoso logo de Nova York

O logotipo “I ♥ NY”, com um coração vermelho (love = amor), entre as letras “I” (Eu) e “NY” (iniciais de Nova Iorque), no tipo American Typewriter foi utilizado juntamente com uma canção como base de uma campanha publicitária para promover o turismo em Nova Iorque em meados dos anos 1970, levada a cabo por William S. Doyle, vice-comissário do New York State Department of Commerce (Departamento de Comércio do Estado) de Nova Iorque, através da agência de publicidade Wells Rich Greene.

O esboço final de Glaser foi desenhado durante uma viagem de táxi, inspirando-se numa campanha publicitária “Virginia ♥ is for lovers, mas também refletindo, segundo o próprio, a influência subliminar da obra de art pop de Robert Indiana LOVE, ao desconstruir o que inicialmente havia escrito numa única linha, empilhando o “I” e a forma de coração sobre as iniciais “NY”.

Para lá da imagem gráfica, este logotipo marca igualmente o conceito de Glaser acerca da profissão e da missão do designer: tendo feito o trabalho pro bono, cedeu os direitos ao estado de Nova Iorque que o tem reproduzido à exaustão, tornando-se um símbolo da cidade, e, com isso, tem ganhado uma fortuna, sem que o seu autor, para lá da fama, tenha lucrado algo com isso. Os esboços originais e os painéis de apresentação de Glaser foram doados por Doyle à coleção permanente do Musem of Modern Art (MoMA).

Sobretudo após os ataques de 11 de setembro à cidade, a imagem tornou-se uma referência identitária, criando um sentimento de pertença e unidade entre a população, mas também entre os visitantes da cidade que compravam e usavam t-shirts brancas com o logotipo em sinal de solidariedade.

Glaser criou uma versão modificada para comemorar os ataques, com a frase “I Love NY More Than Ever” (Eu amo NY mais do que nunca), com uma pequena mancha preta no coração simbolizando o site do World Trade Center. Impresso pelo New York Daily News, foi utilizado pela New York Public Radio (WNYC) num evento de arrecadação de fundos, tendo o próprio Glaser incentivado a sua livre reprodução, num testemunho do impacto cultural e da função social do design.

Milton Glaser nos deixou no dia 26 de junho de 2020 *no dia de seu aniversário), aos 91 anos. A causa foi um derrame, segundo sua mulher, Shirley, disse ao jornal The New York Times.