Massimo Vignelli

O designer Massimo Vignelli desenhou capas de livros, sacos de compras dos grandes armazéns americanos Bloomingdale’s (o famoso brown bag e o lettering ainda hoje usado no logótipo da marca), Saks e Barneys, brochuras ainda em uso para o Serviço de Parques Nacionais dos EUA e inúmeros trabalhos para dezenas de marcas.

Das companhias aéreas (criou a identidade gráfica da American Airlines, usada durante 45 anos) à computação (IBM), passando pelas italianas Pirelli, Olivetti, Perugina, pela cadeira empilhável Handkerchief para a Knoll e até a sinaléctica do Museu Guggenheim de Bilbau, além da redefinição, em 1995, da identidade empresarial da Benetton, que alinhou num rectângulo verde que depois se colocaria nas famosas campanhas de grande impacto social da marca italiana.

Admirador de Le Corbusier e Mies van der Rohe e arquitecto de formação, o designer era conhecido pela sua visão modernista – Michael Bierut, designer gráfico e sócio da maior consultora de design do mundo, a Pentagram, considera que “Massimo, provavelmente mais do que qualquer outra pessoa, tem o crédito de introduzir um ponto de vista modernista europeu ao design gráfico americano”, disse ao The New York Times.

Com o seu colega holandês Bob Noorda, criou a sinalética do metropolitano de Washington (paralelepípedos que se tornaram a imagem do sistema de metro da capital norte-americana) e de Nova Iorque, cidade a que chegou em meados da década de 1960 e da qual desenhou, em 1972, um polémico mapa do metro que diluía a cidade sobre o solo nas linhas coloridas que simbolizavam os percursos dos comboios subterrâneos. É talvez o seu trabalho mais discutido e, simultaneamente, criticado, e o que surge no topo do seu currículo mediático.

HISTÓRIA

Massimo Vignelli nasceu na cidade italiana de Milão em 1931. Ele disse que não foi feliz até conhecer o Design, aos 14 anos, na casa de uma amigo, que a mãe tinha acabado de renovar os interiores da casa. Ele descobriu que alguém tinha sido responsável pela decoração  e ficou fascinado. Após isso ele começou a pesquisar e ler sobre o assunto.

Vignelli começou a desenhar móveis para o seu quarto, mas não ficaram bem, pois não tinha os conhecimentos necessários. Como na época existiam poucas escolas de Design, Vignelli começou a estudar Belas Artes na Accademia di Belle Arti em Milão em 1948, onde ficou até 1950.

Nesse mesmo ano foi estudar Arquitectura no Politécnico de Milão e em 1953 foi para a Università di Architettura, em Veneza.

Em Veneza trabalhou como designer na Venini Glass, enquanto trabalhava freelance em projectos editoriais: catálogos de festivais, jornais e livros.

Conheceu a sua esposa, Lella (Elena) Vignelli, quando estudava em Veneza e casou-se em 1957, pouco antes de irem juntos para os Estados Unidos, ele para estudar no Towle Silversmiths em Massachusetts e ela no MIT.

No ano seguinte Massimo foi dar aulas no Instituto de Design do Instituto de Tecnologia de Illinois (Chicago) e trabalhou como designer na Container Corporation of America, onde ficou até 1960.

Quando voltaram dos Estados Unidos, de 1960 até 1964, montaram o Lella e Massimo Vignelli Escritório de Design e Arquitetura, em Milão.

Em 1965 mudaram-se novamente para Chicago, onde Vignelli abriu um escritório com outros designers, a famosa Unimark International Corporation. Vignelli desenvolveu a imagem gráfica da companhia aérea American Airlines, em 1967, quando estava na Unimark International. Esta imagem foi utilizada pela companhia por mais de 40 anos.

A Unimark International foi fundada por Massimo Vignelli, Ralph Eckerstrom, Bob Noorda, James Fogelman, Wally Gutches e Larry Klein. Herbert Bayer também foi um homem da primeira hora.

A Unimark fez Design para a American Airlines, Ford Motor Company, Gillette, J. C. Penney, Knoll Associates, Heller e a New York Transit Authority. A empresa tornou-se a maior firma de Design do mundo, mas em 1977 os fundadores separaram-se.

Em 1971 ele e Lella Vignelli abriram um escritório em Nova Iorque com o nome de Vignelli Associates, que mudou de nome para Vignelli Design em 1978.

Em 1977, foi contratado pelo National Park Service para unificar o Design das brochuras desta agência que gere os parques naturais, monumentos e edifícios históricos dos EUA. Foi para esse trabalho que Vignelli criou o sistema de grelhas chamado Unigrid.

Esse sistema permitiu que a National Park Service fizesse brochuras em vários formatos mantendo a consistência, a unidade e estrutura gráfica.

Foto antiga da sinalização do Metrô de Nova Iorque

LEGADO
Massimo Vignelli lançou em formato PDF The Vigneli Canon, um livrinho que fala de Design gráfico, processos, metodologia, conceitos. Um primor, recheado de opiniões ácidas, como quando este modernista praticante afirma que o design pós-moderno representa a confusão e o caos.

E que um bom designer só precisa de um punhado de fontes (Ele lista 6: Garamond, Bodoni, Century Expanded, Futura, Times Roman e, obviamente, a Helvetica).

O livro ilustrado é um manifesto em favor da ordem visual, da hierarquia e da estabilidade. Alguns criticam a utilização de grelhas e as escolhas tipográficas de Vignelli, mas o seu portfolio, que conta com clientes como American Airlines, Benneton, Metro de NY, entre outros, parece dar-lhe razão.

Massimo Vignelli apresentando a nova sinalização para o Metrô de Nova Iorque

A clareza de intenção irá traduzir-se numa clareza de resultados, e isso é de suma importância no design. Projetos confusos e complicados revelam uma mente igualmente confusa e complicada. Nós amamos complexidade, mas odiamos complicações! Dito isto, devo acrescentar que gostamos de um design que seja enérgico. Não gostamos de um design hesitante.”

Nova identidade visual do Metrô de Nova Iorque

Gostamos de um design intelectualmente elegante – o que significa elegância da mente, não de maneiras, elegância que é o oposto de vulgaridade.

Nova identidade visual do Metrô de Nova Iorque

Gostamos de um design que vá além da moda e dos modismos temporários. Gostamos do design mais intemporal possível. Desprezamos a cultura da obsolescência. Sentimos o imperativo moral de projetar coisas que vão durar por um logo tempo.”

Na primeira parte, Vignelli escreve sobre os “valores intangíveis”: semântica, sintaxe, pragmática, disciplina, propriedade, ambiguidade, unicidade, poder visual, elegância intelectual, atemporalidade, responsabilidade e equidade.

A segunda parte trata dos valores tangíveis: tamanhos de papel; grelhas, margem, colunas e módulos; estacionário; grelhas para livros; família de fontes, as básicas; alinhamento à esquerda, centro ou justificado; relação entre tamanhos de fontes; linhas tipográficas; contrastando tamanho de fontes; escala; textura; cor; layouts; sequência; acabamento; identidade e diversidade; espaços brancos; uma colecção de experiências; conclusão.

HELVETICA
No documentário Helvetica, Vignelli declarou que nos anos 70, a geração jovem estava atrás de fontes psicodélicas, e qualquer coisa junkie que poderiam encontrar. Nos anos 80, com suas mentes completamente confusas por essa doença que foi chamada de Pós-Modernismo, as pessoas estavam desnorteadas como galinhas sem cabeça, usando todos os tipos de fontes que poderiam dizer “não modernas”.

Ao longo da sua carreira recebeu a medalha AIGA (com a sua mulher, em 1983), o primeiro prêmio presidencial de design dos EUA, em 1985, ou o prêmio carreira do Cooper Hewitt em 2005. Para ele, tal como é mencionado no livro How to Think Like a Great Graphic Designer, de Debbie Millman, citado pela FastCo Design, o design é “diminuir a quantidade de vulgaridade no mundo”

PERDA
Massimo morreu aos 83 anos no dia 27 de maio de 2013, em nova Iorque.
O filho do designer pediu que quem tivesse sido inspirado pelo trabalho do pai, muito doente, lhe dissesse. E as palavras chegaram em cartas, postais, brochuras e muito design. A partilha desses agradecimentos foi feita com a hashtag #dearmassimo no Twitter, onde a hashtag #dearmassimo tornou-se a forma de chorar online a morte do “visionário”, do “avô do design gráfico”, de “um dos maiores designers do século XX”.

Os obituários de Massimo Vignelli descreveram-no como: “Essa figura tutelar do design gráfico que marcou uma paisagem e ajudou a criá-la, especialmente em Nova Iorque”. Mas ele, a quem muitos dos seus pares e jovens fãs escreveram, consideravam-o um “arquiteto da informação”. Mestre da clareza e simplificação, o seu trabalho ou entra olhos ou já entrou pessoalmente, nas ruas da cidade cuja sinalização do Metrô desenhou ou nos filmes e imagens que retratam a cinematográfica cidade em todos os seus ângulos.